Autor: Lucas Ferrari Corrêa
No 2º domingo de dezembro, comemoramos o dia do livro mais importante do mundo, o livro que foi escrito por mais de 40 autores e que cruzou séculos até a sua conclusão, o livro pelo qual o próprio Deus registrou a história e esperança da humanidade através de seu Filho Cristo Jesus. Neste domingo, celebramos o Dia da Bíblia!
A Bíblia carrega consigo uma extraordinária história, não apenas pelo seu conteúdo, mas uma história que vai desde a sua formação, reconhecimento, organização, cópias, impressões, traduções, e divulgação. Em tudo podemos ver a providência do Senhor em preservar sua Palavra ao longo do tempo, permitindo inclusive que chegasse em nossas mãos hoje. Nesse texto, vamos explorar algumas das curiosidades e fatos sobre a preservação e compilação do texto sagrado.
Formação do Cânon
O termo "cânon" ou "cânone" deriva do grego "kanón" que era utilizado para designar uma vara que servia de referência como unidade de medida. Também do grego veio o nome "bíblia", que significa "os livros" fazendo referência a pergaminhos, além de ser derivado do nome "Biblos", nome grego para a cidade portuária fenícia que exportava o papiro egípcio e por consequência, livros.
Quando falamos do "cânon bíblico cristão" então estamos falando dos "livros padrões" para o cristianismo. E afinal, como a Bíblia foi redigida e formatada? Por que 66 livros, sendo destes 39 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento? Por que a Bíblia Protestante é diferente da Bíblia Católica? Os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento sofreram alterações?
A Bíblia foi escrita por mais de 40 autores ao longo de 1600 anos, sendo grande parte deste tempo o Antigo Testamento. No período intertestamentário (o período de cerca de 400 anos entre a época de Neemias e o nascimento de Jesus, aproximadamente de 433 a.C. até 5 a.C.) já se tinham as Escrituras Hebraicas, que formam o Antigo Testamento. As Escrituras chegaram nesta época que antecedeu a Cristo sendo "guardadas" pelos "massoretas", um grupo de judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de guardar a tradição oral da vocalização e acentuação dos textos.
Conhecido como Cânon Massorético, o conteúdo preservado pelos massoretas é o mesmo que temos no Antigo Testamento em nossas Bíblias hoje em dia, somente com alguns agrupamentos diferentes (exemplo: livros como 1 e 2 Samuel formavam apenas um livro) e ordem diferentes, sendo divididos da seguinte forma: a lei (Torah), os profetas (Nevi'm) e os escritos (Ketuvim). É interessante que este foi o cânon utilizado por Jesus quando o Senhor cita "De Abel até Zacarias" (Lc 11.50-51 e Mt 23.25) fazendo referência a Gênesis 4.8 e 2Crônicas 24.21-22, onde Gênesis é o primeiro livro da Torah e 2 Crônicas o último livro do Ketuvim.
Já as Escrituras do Novo Testamento foram reconhecidas pela igreja primitiva, onde foram procurados observar os seguintes critérios: os escritos precisavam ter autoria apostólica ou ligação imediata; a autoridade precisava ser reconhecida pela comunidade cristã; em caso de dúvidas, os escritos precisavam ter harmonia com os demais livros do Novo Testamento que não possuíam dúvidas. É importante frisar que durante esse processo de reconhecimento, não houve por parte da igreja qualquer tentativa de procurar e/ou coletar outros textos que comporiam as Escrituras. O que aconteceu foi receber aquilo que já se circulava dentro das igrejas e verificar se de fato era coeso com o restante das Escrituras.
Em relação ao Cânon do Novo Testamento o processo de reconhecimento e definição dos livros pode ser resumido a:
Em relação a confiabilidade e autenticidade tanto do Antigo quanto do Novo Testamento podemos analisar tanto os relatos internos das Escrituras, quanto os relatos históricos e também os manuscritos.
Josefo, sendo um historiador judeu (37-95 a.C.) é uma importante figura histórica que confirma a quantidade e os livros da Bíblia Hebraica, afirmando o Cânon Massorético e que após Malaquias não houve nenhuma adição às Escrituras. Além dele, outros pais da igreja como Mileto, Orígenes, Tertuliano e Jerônimo confirmaram o cânon hebraico de 22 ou 24 livros (dependendo de como os livros que conhecemos hoje eram agrupados em livros maiores), com os conteúdos iguais aos que temos hoje.
O próprio Senhor Jesus e os demais apóstolos não questionaram o cânon vigente fazendo cerca de seiscentas citações ao Antigo Testamento, incluindo praticamente todos os livros do cânon hebraico e não citando nenhum outro livro de fora.
Manuscritos
Uma outra forma de garantir a confiabilidade dos livros bíblicos são através dos manuscritos preservados através dos séculos. Como não possuímos mais os textos originais (autógrafos), o que temos em mãos são as cópias (manuscritos) feitas com base em outras cópias mais antigas. É possível verificar, então, se o texto é fidedigno quando comparamos diferentes manuscritos, de diferentes datas e locais.
Em relação ao Antigo Testamento, hoje a principal fonte que temos sobre os manuscritos são os encontrados no Mar Morto (ou de Cunrã, datando de cerca de 300 a.C. a 50 d.C.), possuindo todo o rolo do profeta Isaías, citações de Gênesis, Salmos, Êxodo, Deuteronômio, o livro completo de Levítico e Jó e centenas de outros fragmentos do Antigo Testamento.
Além destes manuscritos do Mar Morto há outros manuscritos pós-cristãos como o Códice Cairense, Códice Alepo e Manuscritos de Leningrado datando de antes de 1000 d.C. Há targumins aramaicos, traduções latinas, siríacas e gregas, sendo a mais conhecida a Septuaginta, com a sua primeira edição remontando um período entre 130 a 100 a.C.
Podemos garantir que o Novo Testamento é a coletânea de textos mais bem preservados do mundo com mais de 5500 manuscritos preservados, desde bíblias inteiras até fragmentos. As poucas discordâncias que existem nos textos se dão na faixa de 2 a 3% de todo o texto do Novo Testamento sendo a maioria relacionados à sintaxe do texto.
Além dos manuscritos antigos há versões de manuscritos traduzidos em outros idiomas que ajudam na veracidade do texto, tais como a Siríaca, Latina, Copta, e outras línguas, inclusive citações da patrística, que com ele já seria possível recriar praticamente todo o Novo Testamento.
Diferenças entre a Bíblia Protestante e a Bíblia Católica
O cânon católico possui todos os livros do cânon protestante, todavia com a adição em Daniel e Ester, livros de Baruque, carta de Jeremias, 1 e 2 Macabeus, Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria. São oriundas da Vulgata latina que provém da Septuaginta. Estes livros são conhecidos como "apócrifos" (que vem de falso ou suspeito) e que foram declarados como "deuterocanônicos" (deutero, que significa "após", ou "segunda vez", então segundo cânones) pela Igreja de Roma, por terem sido adicionados à Bíblia católica em uma data bem posterior à definição das Escrituras.
Até o Concílio de Trento da Igreja Romana, em 1546, não havia uma definição exata sobre qual cânone padrão que deveria ser utilizado por toda a Igreja Romana. Após a Reforma Protestante, como forma de reação da Igreja Romana, e para demonstrar soberania de Roma em relação às Escrituras, já que os reformadores aceitaram somente o cânone hebráico como as verdadeiras Escrituras, o concílio de Trento declarou canônico os livros apócrifos citados acima.
Conclusão
A Bíblia é o livro mais bem conservado, preservado e confiável do mundo. Não somente pela sua autoria divina, mas também pela preservação do próprio Deus que não apenas inspirou homens para redigi-la, mas guiou outros homens para que a preservassem e para que chegassem até nós.
"Pois tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança." (Romanos 15.4)
Feliz dia da Bíblia!
Referências bibliográficas
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