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Memória e tradição: outras reflexões sobre confessionalidade

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"Passem adiante da arca do Senhor, seu Deus, até o meio do Jordão. Cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vocês. E, no futuro, quando os seus filhos perguntarem: 'O que significam estas pedras para vocês?', respondam que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca da aliança do Senhor. Quando a arca passou, as águas do Jordão foram cortadas. Estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel. (Js 4.5-7)

O pastor batista Tiago Cavaco começa assim a 4ª faixa de um de seus inusitados álbuns – "R de Ressurreição" – escondidos por aí na internet: "Porque a tendência é exatamente o esquecimento. Aliás, Jesus disse que um dos trabalhos do Espírito Santo seria fazer-nos recordar daquilo que Ele próprio ensinou".

Essa frase vez ou outra reaparece como um eco na minha cabeça: "Porque a tendência é exatamente o esquecimento". Não é difícil para alguém que quase sempre esquece onde botou a chave do carro entender isso. "A tendência é exatamente o esquecimento".

Por isso Deus nos deu as repetições! Por isso eu já digitei aquela mesma frase do pastor português três vezes. Talvez seja por isso que a poesia hebraica use paralelismos. E é certamente por isso que Deus nos deu símbolos. A Bíblia está cheia desses monumentos simbólicos, desses rituais memorativos. No texto acima, Deus manda e Josué reproduz a ordem de que um representante de cada uma das doze tribos de Israel fosse ao meio do Jordão coletar pedras para fazer um montão que lhes servisse de símbolo. Um símbolo é algo que encontra sentido fora de si, que aponta para aquilo que significa. As pedras, por si, não eram nada. Mas quando os filhos no futuro perguntassem sobre elas, os pais poderiam apontar para o milagre do Jordão e a história da redenção de Israel.

Deus ama símbolos. Josué 4 não é uma alegoria; as pedras ali eram pedras mesmo. Mas o mais importante é o sinal, ou melhor, aquilo de que ele está falando. As pedras no Jordão não foram a primeira instrução do tipo. O Senhor ordenou que Abraão selasse no próprio corpo dos homens hebreus a marca da aliança. Séculos depois, instituiu a Páscoa para ser repetida perpetuamente. No Novo Testamento, o Senhor Jesus nos deu o pão, o vinho e o batismo. Repetições. Símbolos. Por que tudo isso? Ora, "porque a tendência é exatamente o esquecimento". E sem memória, não há esperança.

Mas o que isso tudo tem a ver com confessionalidade? O que pedras têm a ver com credos e confissões? Com o passar dos anos, as pedras desapareceram. Com o passar dos anos, nem mesmo a circuncisão e a Páscoa eram mais necessárias. Mas Deus sempre quis que a realidade por trás dos sinais, essa sim, fosse passada de geração a geração, como uma tradição. As pedras eram uma desculpa para os pais contarem a história do povo, para eles "inculcarem" nos ouvidos e corações da geração seguinte a verdade da glória de Deus. As pedras, no entanto, foram substituídas. Substituídas pela Bíblia. A palavra de Deus é o monumento que nos faz recordar aquilo que nos traz esperança. No primeiro texto desta série (que você encontra clicando aqui), vimos Paulo dizendo aos coríntios: "Irmãos, venho lembrar-lhes o evangelho que anunciei a vocês". Por que ele precisava lembrar a eles do evangelho? "Porque a tendência é exatamente o esquecimento". E certo de que eles precisavam lembrar-se continuamente do evangelho, Paulo lhes deu um resumo da mensagem cristã nos versos seguintes (1Co 15.3-8).

Talvez porque a tendência seja exatamente o esquecimento é que, desde cedo na história da Igreja, houve resumos dos pontos essenciais da fé cristã. 1Co 15 é um exemplo. Há vários outros (Dt 6.4; Rm 1.3,4; 1Co 8.6; 2Tm 1.9,10; 1Pe 3.18-21). Você se lembra, por exemplo, de Fp 2.6-11? Muitos acreditam que este era um "hino credal" da igreja primitiva!

[Cristo Jesus] existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

E 1Tm 3.16? Já percebeu como esse texto também se parece com um pequeno credo cristão?

Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, visto pelos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.

A Bíblia está cheia de textos com aquilo que Carl Trueman chamou de "sensibilidade confessional". Essa é a nossa tradição! Mais do que uma saudação pomposa, ou uma cruz no peito, nosso símbolo maior, a tradição que seguimos, repetimos e queremos transmitir é o evangelho de Cristo Jesus.

Por isso essa série. Por isso ainda martelaremos um pouco mais esse tema nos próximos textos. "Porque a tendência é exatamente o esquecimento".


Assim, pois, irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições
que lhes foram ensinadas, seja por palavra, seja por carta nossa. (2Ts 2.15)  

- Misael Pulhes 

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