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Heidelberg: um estudo de caso – reflexões (quase) finais sobre confessionalidade

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Qual o fundamento da sua vida? Qual o seu conforto nos dias difíceis? Qual será seu único consolo verdadeiro diante da morte? Uma das grandes virtudes das crianças é aquela capaz de levar alguns adultos à loucura: a capacidade de fazer perguntas. Com o tempo, nossa tendência é abandonar essa característica – precisamos e queremos respostas. Ah, os adultos! (Quem foi que disse que seria bom sermos como os pequeninos?)

Na ânsia por respostas, nós adultos nem sequer sabemos mais quais perguntas realmente importam. Sempre me deixará espantado o fato de os catecismos terem sido feitos para crianças. Você já deve ter visto um catecismo, não? Uma série de perguntas, com respostas mais ou menos diretas com o fim de introduzir alguém em uma doutrina. Como é de se imaginar, os evangélicos têm associado o processo de catequese (que é basicamente um modelo de ensino por meio das perguntas e respostas de um catecismo) ao catolicismo. No entanto, temos uma herança valiosa de catecismos evangélicos que precisa ser resgatada.

Depois de falarmos muito sobre credos antigos (você pode ler os primeiros três textos desta série aqui, aqui e aqui), que tal desta vez olharmos de perto um trecho precioso de um catecismo reformado? No meio presbiteriano, a primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster ("qual o fim principal do homem?") e sua respectiva resposta ("o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre") parecem ser bem conhecidas. Aqui, no entanto, quero falar da primeira pergunta de outro desses documentos, o belíssimo Catecismo de Heidelberg:

Qual é o seu único fundamento, na vida e na morte?
O meu único fundamento é meu fiel Salvador Jesus Cristo. A Ele pertenço, de corpo e alma, na vida e na morte, e não pertenço a mim mesmo. Com seu precioso sangue Ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo. Agora Ele me protege de tal maneira que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo coopera para o meu bem. Por isso, pelo Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o coração.

Qual é o seu único fundamento, na vida e na morte?
Algumas versões apresentam, em vez de "fundamento", a palavra "consolo", ou "conforto". Para os fins deste artigo, todas servirão. Afinal, Cristo é nosso único fundamento, consolo e conforto. Na vida e na morte. O único. A vida só faz sentido se Cristo é a base, o suporte, o ponto de partida de todas as nossas ações, reações (diz o pr. Jonas Madureira que nossas reações dizem muito mais sobre nós do que nossas ações), sentimentos, pensamentos e planos. A vida sem Cristo é como uma existência sem chão. Talvez esse seja um dos motivos por que uma das imagens bíblicas para o Senhor é rocha. Boas casas são construídas sobre a rocha e não sobre a areia. Cristo é nossa única rocha. Assim é na vida, assim é na morte.

Cristo é também nosso único conforto e consolo. Certa vez, Jó questionou o Senhor: "Tens tu olhos de carne? Acaso, vês tu como vê o homem?" (Jó 10.4). Séculos depois, a resposta desceria ao mundo de Jó, ao mundo dos homens: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". Aquele que sofreu todas as coisas é capaz de compadecer-se de nossas fraquezas. Só Ele pode nos dar conforto em meio à tempestade e nos consolar no dia mau. Pois Ele dormia no barco quando o vento soprava. Pois ele dá pão e carne quando fugimos ao deserto. Para quem iríamos nós senão para o Senhor, o pastor de nossas almas?

O texto prossegue, destacando que somos propriedade do Senhor. A Ele pertenço, de corpo e alma, na vida e na morte, e não pertenço a mim mesmo. A base desse pertencimento é que com seu precioso sangue Ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o domínio do diabo. Não foi com prata ou ouro. Deus comprou a Igreja com seu próprio sangue – sim, Atos 20.28 diz que fomos comprados com o sangue de Deus! E se o Pai nos deu o Filho, se o Filho nos deu a vida, não nos dará Deus graciosamente todas as coisas? O que precisaríamos temer? Quantas vezes a lembrança de Cristo no Calvário nos dá a segurança de que precisamos? Se Ele fez aquilo por nós, se aquele foi o preço do resgate, o gesto do seu amor, o que nos separará desse amor? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?

Cristo não só se dá a nós na cruz, mas, tendo feito isso, continua nos protegendo de tal maneira que, sem a vontade do meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo coopera para o meu bem. Como seria o mundo se nós realmente acreditássemos nessas coisas? As biografias de homens e mulheres de fé que "invejamos" e que nos emocionam não existem justamente porque alguns de nós conseguiram confiar nEle desse modo?

Como selo final da sua gloriosa graça, Cristo, pelo Espírito Santo, também me garante a vida eterna e me torna disposto a viver para Ele, daqui em diante, de todo o coração. Ah, a perseverança dos santos, o último e meu favorito ponto do calvinismo! Alguns preferem olhá-lo pelo lado certo; chamam-no a preservação dos santos!

A segurança cristã não é e nunca será perfeita desse lado da vida. Mas é sempre possível, com a graça de Deus, crescermos na convicção de que estamos guardados em Cristo eternamente. Como diz o hino:


Que segurança tenho em Jesus,
Pois nele gozo paz, vida e luz!
Com Cristo herdeiro, Deus me aceitou
Mediante o Filho que me salvou!

Qual é o seu único fundamento, seu único consolo e conforto, na vida e na morte?  

- Misael Pulhes 

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